sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Periferia renova samba de São Paulo

As comunidades de samba em São Paulo tem papel fundamental na propagação e perpetuação do samba na capital. Elas têm aparecido com frequência no cenário do samba aqui na cidade e demonstram a capacidade de manutenção e recriação constante do ritmo.
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As comunidades já eram vistas na década de 60 com a manifestação carnavalesca dos Cordões. Durante décadas aconteceram reuniões nos dias de festas religiosas negras nos bairros paulistanos da Barra Funda e do Jabaquara. Porém, com a oficialização do carnaval foi redigido um regulamento de disciplina que obrigava todos os cordões a se transformarem em movimentos semelhantes aos do Rio de Janeiro, as escolas de samba. As manifestações culturais mais espontâneas e populares ligadas ao samba perderam espaço pelo grande destaque que foi dado às escolas.
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Um processo inverso tem ocorrido a partir da década de 90. Os movimentos começaram a reaparecer, mostrando a força do ritmo musical como agente comunitário e agregador de valor cultural. Para José Alfredo Gonçalves Miranda, o Paquera, a importância desses movimentos é valorizar a cultura e a identidade cultural do País, além de determinar o samba como um ritmo independente do carnaval. Ele é fundador de uma das mais representativas comunidades, o Samba da Vela, e tem o ritmo como condutor de seus projetos profissionais e pessoais.
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Comunidades como o Samba da Vela, Kolombolo, Samba da Laje, Samba da Tenda, Samba D´elas, todas em São Paulo e o Núcleo Cupinzeiro, em Campinas, têm projetos voltados ao resgate das raízes do samba paulista e realizam um trabalho educativo e cultural com relação ao ritmo. Suas atividades apresentam a história dos batuques, seus compositores e músicas para o enriquecimento das rodas atuais, como uma forma de resgatar e registrar o passado, até então pouco conhecido, e moldar um futuro com o samba tradicional. “As raízes do samba paulista podem, nesses espaços, serem conhecidas e partilhadas pelas novas gerações proporcionando, assim, o aparecimento de sambistas jovens de qualidade porque criam músicas contemporâneas, que se embasam nas tradições passadas conhecidas e absorvidas nestes espaços”, diz a antropóloga Olga Von Simson.
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Grande parte dos movimentos que existem hoje foram idealizados por mulheres. “Muitos se originaram de iniciativas femininas em busca de melhores condições de vida para os bairros de regiões periféricas das grandes cidades”, explica Olga.
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Na Folha de S. Paulo de ontem, dia 10, foi publicada uma matéria interessantíssima sobre o reencontro de sambistas do mutirão, movimento iniciado em 1997 para "resgatar o samba" que estava ofuscado pelo crescimento do pagode e que originiou a maioria das comunidades atuais.
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Movimento surgiu no fim dos anos 90, com foco no samba de raiz, na formação de novos talentos e novas composições
Encontro Mutirão do Samba impulsiona novos sambistas, como Douglas Germano, Adriana Moreira e Marquinho Dikuã
THIAGO MENDONÇA- COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A tarde chuvosa de anteontem não impediu a descontração do encontro, que começou com atraso devido aos alagamentos. Na mesa do bar estavam representantes de algumas das comunidades de samba de São Paulo, movimento que tomou conta das periferias.
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Presentes Selito SD, do Projeto Nosso Samba de Osasco, T.Kaçula, da Rua do Samba Paulista, Babalu, do Samba da Laje, Marquinhos Dikuã, do Samba de Todos os Tempos, Marquinhos Jaca, da Vai-Vai, e Caio Prado, ex-Projeto Nosso Samba. Adriana Moreira, uma das belas vozes desta geração de sambistas, avisa que ela e Douglas Germano não conseguirão vir por conta da chuva. Entre sambas e risadas, eles contam a história do novo samba paulista.
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Nos anos 90, surgiram os primeiros sinais de saturação do pagode comercial. Ao mesmo tempo, as escolas de samba vinham deixando de agregar compositores para se tornarem um triste pastiche dos desfiles cariocas. Não havia mais espaços para os compositores. Alguns anunciaram a morte do samba, mas ele sobreviveu tímida e desorganizadamente nos quintais e botecos da periferia paulistana.
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Em 1997, surgiu o Mutirão do Samba, um encontro de sambistas, visando o culto ao samba de raiz, a formação de novos talentos e a exibição de novos sambas. Douglas, um dos fundadores, via ali um estímulo à criação. "O Mutirão nasceu com a vontade de registrar nossa própria história. Neste grupo de 32 pessoas havia compositores, percussionistas de escola de samba e de botequim, instrumentistas, cantores."
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Surgia algo novo em São Paulo. "Uma roda com composições próprias, que era ao mesmo tempo um encontro e um espaço de formação", lembra Adriana. O mutirão durou três anos e dali saiu toda uma nova geração de compositores e músicos, alguns com trabalhos autorais, como Adriana, Douglas e Kiko Dinucci.
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A experiência do Mutirão serviu como inspiração para a formação de uma série de novas experiências. Projeto Nosso Samba, Samba da Vela, Samba Autêntico, Samba da Laje, Samba de Todos os Tempos, entre dezenas de comunidades. "Surgiu uma série desses núcleos, a partir do samba tradicional", conta Selito. "Ninguém aguentava mais aquela mesmice dos anos 90", diz Kaçula. "A vulgarização das letras a repetição das fórmulas de sucesso."As comunidades são um culto às batucadas, uma retomada do samba a partir da tradição, que gerou uma nova sonoridade paulistana.
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O movimento desencadeou também a busca de um samba com sotaque próprio, livre do samba do Rio. Caio Prado identifica a ideia de morte do samba com o culto excessivo ao passado do samba carioca. "Queríamos um samba com ideias nossas, literatura nossa, que falasse do nosso cotidiano."
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O novo samba paulistano procura ser a crônica de seu tempo e espaço. Como observa Marquinhos Jaca, "tem gente que usa roupa de bamba da antiga, agindo como se vivesse em 1954. Nosso samba tem que retratar nossa realidade".
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Marquinho Dikuã acredita que as comunidades possam abrir uma nova possibilidade para sua geração de sambistas. Está em curso um boom de independente de discos de samba. "Hoje há em São Paulo 30, 40 comunidades de samba que reúnem por ano 300 a 400 mil pessoas. Temos público." Caio coloca um porém: "A gente conseguiu se reunir para produzir, mas essa produção não consegue ser escoada. A pergunta é como quebrar a barreira e cair nas graças do povo."


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