quinta-feira, 30 de julho de 2009

São filhos e são o que são

Durante nossos poucos meses de estudo sobre o samba, temos notado que, em muitos casos, o samba é um "mal de família", no melhor sentido que a expressão possa ter. Talvez um pouco mais que em outras vertentes musicais.

Fala-se muito de Fulano de Tal que é filho de Beltrano e Ciclana e ainda há uma hipócrita idéia de que se não fosse pelas suas raízes ou pela família em que nasceu, tal pessoa não teria chegado onde chegou.

Acreditamos que talvez não mesmo, e isso é positivo!!!

Talvez se Diogo Nogueira não fosse filho de João Nogueira, não teria chegado nem perto do universo musical do qual seu pai fazia parte. Apesar do dom, pode ser que não tivesse se interessado pela música, não fosse pelas reuniões musicais que presenciou desde menino. Não teria conhecido os filhos de Baden Powell e de Mestre Marçall, que também poderiam não ter aguçado sentimento nenhum pela música, não fosse pelos assobios constantes de seus pais.

Se Mariana Aydar (entrevista abaixo) não tivesse os pais que tem, talvez não teria a oportunidade de se dedicar a música e pior, poderia não ter tido o incentivo que teve em casa, coisa que, dentro deste contexto, me parece fundamental para o sucesso em qualquer carreira.

No caso da filha de Elis Regina, o papo foi outro. Passou do "Maria Rita só faz sucesso porque é filha de Elis Regina e César Camargo Mariano" para "ela imita o estilo da mãe". Hoje é sucesso incontestável e mostra a contradição crítica do brasileiro: Como ela poderia ter sucesso se não fosse realmente boa? A aprovação vem exatamente da boca que critica!

Benditos são aqueles que nasceram em berço musical e foram ninados ao som de canções compostas pelos próprios pais.

Devemos nossos aplausos às familias em que a música passa de geração pra geração e a estes jovens que tem orgulho de vir de onde vieram e passar adiante tudo o que aprenderam, com um brilho único. O "azar" é deles!

Abaixo, um texto sobre Diogo Nogueira, de Sérgio Cabral, provando mais uma vez que o talento vai muito além da herança genética.



*Por Sérgio Cabral

Ao fazer seus songbooks, Almir Chediak queixava-se da falta de grandes cantores das novas gerações. Nas últimas décadas, enquanto nossa música produzia uma fartura de cantoras, os cantores apareciam como se fosse em conta-gotas, sendo alguns deles compositores que se transformavam em grandes intérpretes, como foi o caso, por exemplo, de Milton Nascimento, Caetano Veloso e João Nogueira. Eis que, em pleno alvorecer do século XXI, somos contemplados com Diogo Nogueira, um intérprete que não é apenas um dos maiores cantores de sambas de todos os tempos, mas um dos nossos melhores cantores da música popular brasileira. E um compositor com uma bela carreira pela frente.

O magnífico DVD com o espetáculo realizado no Teatro João Caetano, no Rio, mostra que ele vai além do DNA, pois herdou aquela voz maravilhosa que levou o mesmo Chediak a convidar João Nogueira a cantar em quase todos os songbooks e enriquece suas interpretações com uma postura de palco que nem o pai possuía. É mais bonito, é verdade, mas não é apenas isso. Diogo Nogueira é dotado daquele misterioso talento que faz o espectador acreditar que ocupa o palco inteiro, mesmo quando aparece sozinho. É realmente um mistério, um brilho especial conferido a raros cantores, como, por exemplo, Carmen Miranda e o já citado Caetano Veloso.

Diogo honra o sobrenome. Aliás, que momento emocionante do espetáculo é aquele em que ele e Marcel Powell interpretam Violão vadio, de Baden Powell e Paulo César Pinheiro. A gente fica absolutamente convicto de que os pais deles continuam entre nós, como a confirmar o velho aforismo de Hipócrates de que a vida é breve, mas a arte é longa. Ou, para não ir tão longe, há cerca de quatro séculos antes de Cristo, cito o contemporâneo Ataulfo Alves, para quem “morre o homem e fica a fama”. Ou, ainda, morre o homem, ficam os filhos, digo eu. Afinal, no mesmo show estão os filhos de João Nogueira, de Baden Powell e do Mestre Marçal, Marçalzinho, que brilha na percussão como o pai e o avô, o grande Armando Marçal.

Em dois clássicos de João Nogueira, Do jeito que o rei mandou e Nó na madeira, Diogo divide o palco com Marcelo D2, um artista de grande número de admiradores e que, como criador, tem na cabeça a forma importada dos Estados Unidos e, no coração, o legítimo samba brasileiro. São os efeitos da globalização. Outro que se apresenta ao lado de Diogo Nogueira é Xande de Pilares, do grupo Revelação, na música Cai no samba, umdos sambas inéditos mais aplaudidos do espetáculo. Seu autor é o jovem Ciraninho, um dos parceiros do Diogo no samba-enredo da Portela de 2007. Aliás, Diogo Nogueira não comparece apenas com músicas já conhecidas do público. Ele contribui também com vários sambas inéditos, sendo dois deles de sua autoria. Para cantar os sambas antigos e novos, ele teve o bom senso de dividir o palco também com o que há de melhor em matéria de músicos de samba, a começar por Alceu Maia no cavaquinho, arranjos e produção musical, Dirceu Leite nos sopros e o coro formado por Analimar e Jussara Lourenço.

Os apaixonados pela nossa música somos gratos aos responsáveis pelo lançamento desse DVD.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

"O Samba é uma entidade"


Na última sexta-feira fomos ao show de Mariana Aydar no teatro Cacilda Becker, em São Bernardo. Simpática, ela entrou no palco agradecendo aos 300 convidados por enfrentarem a noite fria e chuvosa para garantir o ingresso e prestigiá-la. Ela confessou que cantar em São Bernardo tem um gosto especial: a cidade foi onde Mariana passou parte da infância, pois os tios e primos – que estavam na platéia – moram lá.

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Apesar do show de lançamento do novo CD ser só em setembro, ela mostrou as músicas Peixes, Ta?, Palavras não falam (a primeira composição dela) e Aqui em Casa – parceria com Duani e uma das melhores do CD. No repertório também entraram músicas do primeiro CD, Kavita, e alguns sambas como Vai Vadiar e Zé do Caroço.

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No final do show, e após o bis (que Mariana tocou uma versão de Zé do Caroço com batidas de funk), contamos para Mariana do nosso projeto, da ideia de exaltar as mulheres que se destacam no samba, e batemos um papo com a cantora. Ela contou a sua história com o samba, falou do pré-conceito de ser filha de artista, das diferenças Rio - São Paulo e, claro, das mulheres ! Seguem alguns trechos da entrevista, que será publicada na íntegra no nosso livro.

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- No seu segundo disco há diversos sambas. De onde veio essa influência? Meu pai, ele tinha um grupo chamado “Premeditando o Breque”, e eles tocavam muito samba, muito samba paulistano. Quando eu estava na sétima série tinha um caroneiro que me levava pra escola, era um monte de criança e eu não me identificava com as pessoas. Tinha o Luis, o motorista, que era da Leandro de Itaquera e na volta ele não deixava ouvir jovem pan, que eu adorava. Ele colocava numa rádio comunitária de samba que só tinha assim... Leci, Branca de Neve, Fundo de quintal, Zeca, tal... Então eu fui ouvindo e sempre gostei. Aí quando eu fui morar em Paris, percebei que era um laço muito forte, que era uma coisa natural minha. Eu acho que o meu cantar, o jeito q eu vejo o meu canto é muito próximo do samba.

- e você quer ser reconhecida como uma sambista? Não. Eu estudei violoncelo, violão, então acho que é difícil fechar em uma coisa. O forro é muito próximo do samba, eu comecei como cantora de forró e cantei muito Jackson do Pandeiro. Mas eu não gostaria de ser, não é de não ser sambista, mas eu não quero fechar em uma coisa só, ser rotulada como nada. Mas o samba é uma entidade, eu tenho essa teoria. Ele é uma entidade que pega algumas pessoas pra ele, ele escolhe. Você é tomada e quando você é tomada realmente, não dá pra ficar sem. Não dá, você não consegue, é uma dependência.

- você acha que tem espaço para essas sambistas da nova geração? Eu acho, eu acho que começou a abrir a cena brasileira pros jovens. Todo mundo ouvia musica internacional quando éramos menores, e isso foi se abrindo. Acho que o samba nunca morre né? O samba sempre está lá. Acho que está chegando a outra classe social que é uma coisa nova. Por mais que chegou nessa classe com a bossa nova não era o samba mesmo, roots. Acho que está chegando e o Zeca é o maior exemplo disso. Ele é um cara muito importante pro samba na atualidade.

- mas e para mulher, você acha que tem espaço ou ainda tem muito preconceito? Acho, e não acho que tem preconceito, eu não sinto isso comigo nem de homem e nem de mulher. Eu fui muito bem recebida pelas pessoas do samba. Porque assim, sou paulista, branca, e eu sinto às vezes essa resistência, mas mais por uma questão da minha vida, e não por ser mulher. É mais por eu ter o não estereótipo de uma sambista. Eu sei que tenho samba no coração, então fico sossegada.

- e essa questão de paulistas e cariocas, você acredita que ainda exista resistência? Tem, tem sim, e é por parte dos dois. Gosto muito do samba do rio, acho que é diferente. Ao mesmo tempo, eu nunca fui ao Berço do Samba de São Matheus, onde dizem que o bicho pega mesmo. Não é questão de melhor ou pior, é uma questão cultural. SP é mais rock, eletrônico, está mais aéreo, porque lá está concentrado. O Rio é uma cidade menor, tanto na periferia, como na cidade, todos os lugares têm samba. E SP não tem essa cultura, então é diferente por essa questão. São Matheus tem essa cultura, mas é muito pequeno em relação ao tamanho da cidade.

- e falando em preconceito, você sentiu algum preconceito por ser filha de músicos ou você acha que te ajudou? Ter sido criada neste meio me ajudou muito porque eu criei intimidade com a música, o palco e tudo o que está em volta muito cedo. Eu não tenho medo de palco, não fico nervosa, não tenho essa coisa, porque fui criada nesse meio. Mas ao mesmo tempo as pessoas acham que minha mãe faz uma coisa pras mim e não é nada disso. Nesse ponto é um pré-conceito no sentido de não conhecerem a minha relação com a minha mãe ou a minha história de vida, então elas já acham alguma coisa.

- a mulher era vista como musa inspiradora e agora elas compõem, interpretam. Como você vê essa inversão de papéis?Olha, eu acho que isso tem a ver com a nossa época mesmo, da mulher. Porque até os anos 50, 60, era diferente a mulher na sociedade. Agora a coisa virou, a mulher vai trabalhar, cuida do marido, entendeu... faz e acontece, trabalha, bota dinheiro em casa e isso vem naturalmente pra música. Mesmo as mulheres compondo, eu mesma quando to compondo, sempre sai um samba. Acho que é uma questão social e eu acho ótimo porque a mulher é incrível, ela tem muita coisa pra falar, muitos sentimentos e o samba precisa disso, dessa sensibilidade, ritmo, sentimento e a mulherada ta chegando aí.

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*foto de Renan Rodrigues - obrigada!

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Mariana Aydar


Há cerca de dois meses, nos deparamos com uma matéria da revista Bravo sobre Mariana Aydar, a matéria trazia como título “Um Rosto na Multidão”. Depois de ouvirmos o novo cd, “Peixes Pássaros Pessoas”, e lermos inúmeras criticas sobre a cantora, já que essa tem conquistado bastante espaço na mídia, chegamos à conclusão de que Mariana é sim um rosto na multidão, não um simples rosto, mas um que carrega a marca e as características das recentes cantoras brasileiras. Apesar de crescer no meio da música - o pai é músico e a mãe produtora musical - Mariana mostra que não conquistou o público por essas facilidades e sim pela voz belíssima, pelas composições muito bem escolhidas e pela sua forte e marcante maneira de interpretar diversos gêneros, mas no caso do novo trabalho, o samba em especial.

Nessa sexta-feira, dia 24 de julho, acompanharemos a apresentação de Mariana Aydar no Teatro Cacilda Becker, em São Bernardo do Campo. O show é gratuito e os ingressos serão distribuídos uma hora antes na bilheteria local.

Na próxima semana, postaremos a entrevista com Mariana.

Segue matéria da Revista Bravo, do mês de maio.

Crítica - Um Rosto na Multidão
Guiada pelo samba, mas aberta a outras possibilidades, Mariana Aydar refina suas virtudes num segundo CD que tem tudo para destacá-la entre as dezenas de jovens cantoras brasileiras

Por José Flávio Júnior
Mariana Aydar representa perfeitamente o que é a cantora brasileira em 2009. Canta bem, compõe, tem ótimas referências musicais — e nenhum preconceito, interpretando gêneros diferentes —, é charmosa, jovem e está preparada para encarar as mudanças latentes no mercado musical. Até aí, nenhum problema. Mas ele existe. Essa paulistana de 29 anos compete com dezenas de cantoras que ostentam os mesmos predicados, todas almejando audiências maiores. Como se diferenciar da manada num cenário tão pródigo em talentos?
Mariana responde com Peixes Pássaros Pessoas, seu segundo CD. Tudo o que não estava bem resolvido no primeiro disco — Kavita 1 — é sólido em seu sucessor, desde a capa (a primeira, um mosaico brega com várias imagens de Mariana; no novo CD, a cantora imersa no caos do galpão da escola de samba Leandro de Itaquera) até o repertório (em vez de temas consagrados por Elis Regina, só composições de gente da sua geração ou um pouco mais velha).
O gênero musical predominante é o samba. Mas, curiosamente, Mariana se destaca para valer quando se afasta dele. Uma das fugas se dá na sétima faixa, a irresistível Tá?, um xote todo torto escrito por Carlos Rennó, Pedro Luis e Roberta Sá (uma daquelas cantoras que concorrem com Mariana). As palavras que encerram os versos aparecem pela metade, pois "pra bom entendedor meia palavra bas...", prega o refrão. A brincadeira remete a Cadê Teu Suin-?, do segundo disco do Los Hermanos, grupo que Mariana gravou em seu début.
Como hoje não há nada mais óbvio do que gravar Marcelo Camelo e Rodrigo Amarante (os líderes da banda carioca), Mariana foi procurar pérolas em outros mares. E achou Peixes, da dupla budista gaúcha Os The Darma Lóvers, que já não merecia ser apenas cult. Originalmente uma balada folk, ela é um brado de libertação, que diz: "nós morremos como peixes/ com o amor que não vivemos/ satisfeitos mais ou menos". A cantora vive o texto com intensidade, pontuando a canção com um grito desbragado, o momento de maior impacto do álbum.
Outro achado é a luxuriosa Beleza, do casal Rodrigo Campos e Luisa Maita (outra "rival" fantástica). Em dueto com a cabo-verdiana Mayra Andrade, Mariana exalta o ato sexual, o calor que a mantém acesa. Casa maravilhosamente bem com Aqui em Casa, criação de Mariana e do namorado, Duani, que vem na sequência. Nesse, o melhor samba do disco, uma anfitriã trata seu hóspede com todo carinho, mas teme que ele confunda a cortesia com outra coisa. Tem jeitão de samba para a história, que será lembrado por ter inaugurado um assunto. O novo CD deixa Mariana numa posição privilegiada diante das adversárias. Quem lucra é o fã de música brasileira: enquanto as cantoras se estapeiam por um lugar ao sol, ele sorri com a certeza de que já ganhou.

O DISCO
Peixes Pássaros Pessoas (Universal), de Mariana Aydar. Produtores: Duani e Kassin. Preço médio: R$ 30.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Clube do Democráticos - RJ

No dia 09 de julho foi feriado em Sampa então fomos para o Rio de Janeiro conhecer os sambas de lá. Não poderíamos deixar de visitar a Lapa, principal reduto carioca do gênero, que possui diversas casas em um só local.


Apesar da forte chuva que caiu no sábado à noite, as ruas da Lapa estavam lotadas. Pessoas de todo tipo, de patricinha a desencanado, cabelos lisos, loiros e encaracolados, uma boa mistura como todo bom samba - sem preconceito.


Entramos no Clube dos Democráticos - a casa de samba mais antiga do Rio de Janeiro. Além de ser um lugar de boa música, a ida ao clube vale pelo seu valor histórico. A sede do clube fica em um castelo, na rua Riachuelo, tombado pelo IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - em 1987. No sábado o som estava por conta da Orquestra Republicana, com intervalos ao ritmo de clássicos da MPB, samba, choro e samba-rock.


Não há uma faixa etária predominante, e é comum notar sambistas da velha guarda dançando pelo chão de madeira do salão com uma jovem amante do samba.


Abaixo, um breve histórico da casa - retirado da página oficial do clube na internet: www.clubedosdemocraticos.com.br

Fundado em 19 de janeiro de 1867, na Cidade do Rio de Janeiro, é uma sociedade social recreativa com personalidade jurídica na forma da Lei, tendo por objetivo principal promover entre os seus associados reuniões social, desportivas, carnavalescas, festejadas interna e externamente, além de quaisquer outras diversões permitidas pela legislação.
Nos idos de 1866, período imperial, no meio dos movimentos abolicionistas, republicanos e Guerra contra o Paraguai, apesar das turbulências da época, nesta data, um grupo de comerciantes e boêmios conhecidos pela forma como costumavam se divertir e fazer críticas; liderados pelo português José Alves da Silva, reuniram-se na "Maison Rouge", famoso bar e confeitaria e compraram um bilhete de loteria, em extração do dia de Nossa Senhora da Glória, com a intenção de fundar uma Sociedade Carnavalesca, se sorteados fossem.
A sorte grande aconteceu. Um prêmio de 15 mil contos de réis, uma verdadeira fortuna na época, que foi um incentivo para o Grupo dos XX amantes, como eram conhecidos, levarem adiante a idéia de fundar o "Democráticos Carnavalescos", e acabou acontecendo meses depois no dia 19 de Janeiro de 1867. Seus sócios denominados Carapicus (um peixe) e sua sede é chamada de Castelo. Durante muitos anos, desde o longínquo 1891, as Sociedades Carnavalescas, que tinham como padroeira Nossa Senhora da Glória, o dia 15 de agosto, era dedicado a diversas comemorações em agradecimentos a seus triunfos e suas vitórias, e longe de haver profanação religiosa, os festejos realizados por tais sociedades, constituíam gratidão e reconhecimento a Santa, excelsa padroeira.
Os bailes da Glória, venerada nos salões de festas das Grandes Sociedades, tinham uma consagração ruidosa e era realizado à caráter por seus associados, cavalheiros com smoking e damas em vestidos de alto custo.
Com o declínio das Grandes Sociedades, o Clube dos Democráticos, mantém-se fiel a tradição zela pela sua continuidade.
Em 1867, José Alves da Silva fundador e primeiro Presidente do Clube, devoto de Nossa Senhora da Glória, mandou trazer de Portugal, sua terra natal, uma imagem da santa e desde então, nos 140 anos de existência de nossa instituição, jamais deixamos de prestar homenagens a padroeira do Clube dos Democráticos.



quarta-feira, 15 de julho de 2009

Paulo Vanzolini


Ele não gosta muito de ser lembrado pelos sambas memoráveis que escreveu. Um especialista em répteis e anfíbios, Paulo Vanzolini ganhou um documentário esse ano, Um Homem de Moral, de Ricardo Dias, e tem se destacado nos veículos de comunicação tanto pelas composições quanto pela sua história pra lá de instigante.

Segue matéria belíssima de Diogo Schelp na Revista Bravo desse mês.



Revista BRAVO! Julho/2009

As Viagens Musicais de Paulo Vanzolini
Ou: de como as excursões de um biólogo influenciaram a linguagem e a inspiração de um compositor

Criador de clássicos da música brasileira como Ronda, o compositor Paulo Vanzolini sempre teve o hábito de escrever diários de viagem. Anotados a lápis ou caneta-tinteiro durante suas expedições como biólogo, à luz de lampião e enquanto abanava os mosquitos, esses manuscritos estão encadernados em uma dezena de grossos volumes de capa vermelha. Numa comparação livre, levando-se em consideração o abismo de épocas, pode-se dizer que Vanzolini é o último dos naturalistas-viajantes. O músico e cientista, hoje com 85 anos, seria assim o herdeiro da tradição de Spix e Martius, Darwin, Saint-Hilaire, Langsdorff e outros que percorreram o Brasil no século 19, anotando o que viam, colhendo e empalhando espécies animais e pintando a paisagem. Deles, mantém o espírito desbravador e generalista, em extinção em tempos de ciência cada vez mais especializada.
A maioria das páginas de seus diários, como não poderia deixar de ser, contém inventários detalhados dos bichos encontrados nas incursões mato adentro.Mas há também alguns trechos que permitem, de maneira saborosa, entrever a intersecção entre o Paulo cientista e o Paulo artista. Vanzolini é tema de um documentário que está em cartaz nos cinemas, Um Homem de Moral, dirigido por Ricardo Dias. O filme possibilita uma viagem pelo universo musical de Vanzolini, uma vez que ele se estrutura a partir da atividade do compositor. Já a viagem que os diários propõem é mais errática, complexa e surpreendente. Poderia dar origem a outro documentário.
Muitos dos sambas de Vanzolini nasceram da observação astuta e bem-humorada do cotidiano de São Paulo. Praça Clóvis, por exemplo, conta a história de um sujeito que teve a carteira batida na fila do lotação, mas fica feliz porque o furto o livrou da foto de uma mulher de quem havia tempos tentava esquecer. "Tinha vinte e cinco cruzeiros/ e o seu retrato/ Vinte e cinco eu francamente achei barato/ pra me livrarem do meu atraso de vida". Nos relatos de viagem, o mesmo interesse pelos detalhes aparentemente banais do cotidiano está presente. Em uma expedição ao interior do Maranhão, em janeiro de 1955, o cientista observa com curiosidade a estratégia usada pelos caboclos para lhe vender animais. Escreveu o zoólogo: "O pessoal daqui faz tanto negócio por procurador (vindo o procurado junto como espectador) que nem sei mais quem está vendendo. Há um moleque cujo pai vai caçar calangos mas tem vergonha de vender — manda o moleque, que conta tudo ('me paga logo que meu pai quer comprar uma melancia')". Na mesma viagem, o cientista anotou a seguinte cena presenciada no banheiro de um hotel em São Luís: "Um semianalfabeto lendo e explicando para um analfabeto completo uma crônica mundana sobre o festival de Punta del Leste — namoros de Ibrahim Sued, que não fala inglês, com uma jovem qualquer fabulosa que não fala português". Sued era colonista social de O Globo.
Vanzolini não faz questão de esconder que nada entende de música. Ele não sabe diferenciar tom maior de tom menor e, segundo Martinho da Vila, não tem ritmo algum. As suas canções são feitas na pura intuição, com fragmentos do que ele próprio chama de sua memória melódica submersa. Pela frequência e interesse com que anotou, em seus cadernos, versos sertanejos e canções de domínio popular, é natural que estes também tenham influenciado sua memória musical e, como consequência, suas composições. No Maranhão, ele registrou os seguintes versos populares: "Quando eu vim lá de casa/ que passei no caxelô/ fiz um par de alpercata/ dos queixos do teu avô/ só não fiz mais bem feito/ porque o diabo do véio acordou". Semelhante narrativa insolente e desafiadora, típica dos improvisos nordestinos, foi criada por Vanzolini em sua Capoeira do Arnaldo: "Quando eu vim da minha terra/ Vim fazendo tropelia/ No lugar onde eu passava/ estrada ficava vazia/ quem vinha vindo ficava/ quem ia indo não ia". Apesar de ser um compositor urbano, a temática regionalista e os bichos povoam canções como Toada de Luís, O Rato Roeu a Roupa do Rei de Roma e Cuitelinho. Esta última de domínio público e enriquecida pelo zoólogo com duas novas estrofes.
Entre os versos de autores anônimos anotados por ele, e que de outra maneira teriam se perdido para sempre, está uma moda de viola que ele ouviu em uma expedição de 1964 para capturar cobras na ilha da Vitória, no litoral norte paulista. A Moda do Concar conta a história de um navio espanhol que encalhou nas proximidades da ilha e cuja carga, principalmente óleo de oliva, foi saqueada pelos caiçaras. Hoje, alguns moradores mais velhos do Bonete, praia de pescadores em Ilhabela, ainda se lembram com dificuldade de algumas estrofes da canção. Eles reclamam que não podem mais tocá-la: os pastores das igrejas evangélicas que nos últimos anos se estabeleceram na região proí­bem as músicas tradicionais, consideradas pagãs.
Em Um Homem de Moral, Ricardo Dias recupera uma cena de um de seus filmes anteriores em que o cientista caminha na mata, com uma espingarda na mão, e discorre sobre o prazer que tem de estar naquele ambiente: "A mata é uma dessas coisas em que o todo é mais do que a soma das partes. Não é só essa luz, essas plantas, esses bichos, essas vozes, mas é esse todo que penetra a gente". A frase do herpetólogo (especialista em répteis e anfíbios) também serve para descrever as letras de seus sambas. Nelas, o todo é muito mais do que simplesmente a soma das palavras. Há sempre em cada estrofe um elemento oculto, algo que não é dito mas está lá, ajudando a formar uma cena, uma imagem, um sentimento. Em Teima Quem Quer, por exemplo, Vanzolini apresenta uma discussão entre um homem e uma mulher. Mas o contexto da briga, o motivo que levou o casal a se desentender e o tipo de relacionamento existente entre eles ficam apenas subentendidos. A elipse também está presente em Cravo Branco, que conta a história de um crime passional. A segunda estrofe do samba descreve o momento em que o sujeito vê o revólver apontado para ele e sua falta de reação. No verso seguinte, a vítima já está desabando no chão. A narrativa omite o tiro.
Em seus diários de viagem, Vanzolini demonstra a mesma habilidade para contar as histórias de maneira concisa, econômica, dando ainda mais dramaticidade aos fatos. Em uma viagem ao Xingu, em 1965, o cientista estabeleceu a base de sua expedição em uma aldeia dos camaiurás. À noite, em longas conversas à beira da fogueira, os índios contavam, com naturalidade e em detalhes, como haviam matado homens de sua própria tribo, em geral por suspeita de feitiçaria. O zoólogo resumiu assim um assassinato cometido por um índio chamado Wacucuman, a paulada e tiros de calibre .22: "Encontrou o outro na praia. 'Porque está rindo, W.?' 'Porque vai matar você.' Pau, 22 no coco, corpo n'água". Em suas anotações, Vanzolini agradecia a sorte de nenhum feitiço ruim ter sido atribuído a ele, que, médico, tinha fama de pajé na aldeia.
Entrevistei Paulo Vanzolini pela primeira vez quando eu ainda estava na faculdade, para um trabalho de conclusão de curso. A sala onde o biólogo trabalhava, no Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo, era escura e povoada por répteis conservados em vidros com formol e por pesados livros que envergavam as estantes. Ele me ofereceu café, e eu recusei. O herpetólogo, então, ofereceu cachaça. De cima de um armário baixo, apanhou uma garrafa de álcool de cozinha 92,8º e serviu o conteúdo em duas canecas de metal. "É para os funcionários do museu não acharem que eu bebo em serviço", explicou, sobre o hábito de guardar pinga no recipiente de plástico. O expediente já havia terminado e o zoólogo estava prestes a dar lugar ao artista. A cachaça escondida no escritório é como o Vanzolini sambista ou os versos ocultos de suas músicas — nem sempre é visível, mas está lá, parte inseparável do todo.

Diogo Schelp é jornalista de Veja.

O FILME Um Homem de Moral, de Ricardo Dias. Em cartaz nos cinemas.



terça-feira, 14 de julho de 2009

Salve Fabiana Cozza!


Fabiana Cozza é exemplo entre as mulheres que fazem Samba.
A reportagem abaixo, de Ciça Vallerio, mostra que, mesmo filha de peixe, teve que usar as próprias nadadeiras para mostrar que sabia sambar...

... e não deu outra!



*Por Ciça Vallerio (O Estado de São Paulo)

- Na cozinha da sambista Fabiana Cozza, apontada como um dos nomes mais fortes da nova safra de cantoras, a conversa de quase quatro horas é regada a café fresquinho. Antes de servir, ela tira do armário um pacote de bolacha de chocolate, explicando que aquela marca popular foi uma de suas boas descobertas gastronômicas. Depois, pega da geladeira uma especialidade sua, a berinjela ao formo, que sempre salva os amigos músicos durante as constantes visitas.

"Quem cresceu na educação do samba sabe que onde tem música, tem comida", diz Fabiana, enquanto arruma a mesa. "Por isso, a cozinha sempre é o lugar onde recebo, ao mesmo tempo em que preparo algum prato. Por mais que viaje para cantar fora de São Paulo, sempre vou ter alguma coisa para oferecer."

Essa paulistana de 33 anos é filha de uma italiana (daí vem o Cozza), professora primária, com o lendário puxador de samba da escola Camisa Verde e Branco, Oswaldo dos Santos. O paizão carrega o título de tetracampeão paulista de samba-enredo.

Foi nesse clima afro-italiano que Fabiana cresceu, na casa da avó, onde moram até hoje seus pais, na Vila Madalena. Era uma garotinha e já se deliciava com o baticum que animava o churrasco de fim de semana no fundo do quintal, sempre repleto de sambistas. Seu interesse precoce era bem diferente do da sua irmã, que não se deixava levar pelo gingado do pandeiro e da cuíca e, hoje, aos 31 anos, trabalha como enfermeira, especializada em oncologia. "Costumo brincar, dizendo que canto para que as pessoas não fiquem doentes e tenham de ser atendidas por ela", provoca.

Quando criança, Fabiana pulava de alegria nas vezes em que sua mãe a deixava ir aos batuques com seu pai e amigos. E quem tem samba no pé também não poderia ficar de fora do carnaval. Desde os 4 anos de idade, não perdia as matinês do Clube Palmeiras e os ensaios da Camisa Verde e Branco, ficando sempre bem perto da bateria. Até hoje vai ao sambódromo, no Anhembi, assistir aos desfiles, quando sua agenda permite.

O samba entrou pelas veias de Fabiana e nem mesmo a graduação em Jornalismo, pela Pontifícia Universidade Católica (PUC/SP), a fez mudar de caminho. Chegou a trabalhar no portal Terra, escrevendo sobre esportes. Fez uns "frilas" (corruptela de "freelancer") aqui e acolá, escrevendo sobre música. Mas uma hora não teve jeito e, para desespero dos pais, decidiu viver de música.

"Fiz um bem para o jornalismo ao mudar de profissão", brinca a cantora. O desejo de virar a mesa amadureceu quando passou no teste da Universidade Livre de Música, atual Escola de Música do Estado de São Paulo Tom Jobim. Lá, teve como professora de canto nada menos do que Jane Duboc. Após um ano de estudos, apresentou-se como uma das coralistas do grupo montado por Jane, o Novella, no Festival de Inverno de Campos do Jordão.

Como prova de que o mundo dá voltas, retorna às 12h30 de hoje para o mesmo festival de Campos do Jordão, após 13 anos da sua estreia. Fabiana foi convidada para cantar Edith Piaf, em comemoração ao ano da França no Brasil, acompanhada pela orquestra Jazz Sinfônica, na praça do Capivari, em concerto gratuito.

FILHA DE PEIXE
Por mais que percebesse o dom da filha, o pai conhecia muito bem as dificuldades e "malvadezas" do mundo artístico, assim como a realidade do samba. Para provar que conseguiria se sustentar, Fabiana foi pedir emprego aos Trovadores Urbanos (grupo paulistano que oferece serenatas em domicílio). Durante três anos, fez muitas serenatas por São Paulo.

O impulso para deslanchar na carreira veio das muitas canjas que deu na noite, especialmente no bar Ó do Borogodó, em Pinheiros. No início, cantava às segundas, um dia difícil de emplacar apresentação e chamar público. "Comecei de forma discreta, pois queria me testar", lembra. Testou-se tanto que a segunda-feira ficou apinhada de gente para vê-la cantar, passando a ser conhecida como "o dia da Fabiana Cozza".

Até que um bambambã a descobriu. Foi o compositor e violonista Eduardo Gudin, que a convidou para participar da gravação do disco Notícias dum Brasil - Pra Tirar o Chapéu (1998). Com Gudin, apresentou-se em shows de músicos consagrados, como Ivan Lins, Chico César, Paulinho da Viola, Hermeto Paschoal, Leila Pinheiro e Elton Medeiros.

Assim, de mansinho, Fabiana foi dando as caras e encantando as pessoas com seu vozeirão afinado e com um repertório da fina flor do samba tradicional. Em 2004, lançou finalmente seu primeiro disco, O Samba é Meu Dom, sempre como intérprete.

O nome do CD refere-se à música mais emblemática, associada à cantora. A letra, composta por Wilson das Neves e Paulo César Pinheiro, sambistas da velha guarda, retrata a própria trajetória de Fabiana e era uma das mais pedidas em seus shows no bar Ó do Borogodó, onde dá canjas até hoje. Em sua cozinha, após algumas xícaras de café, ela cantarola um trecho: "O samba é meu dom / Aprendi a bater samba ao compasso do meu coração / De quadra, de enredo, de roda, na palma da mão / De breque, de partido alto e o samba-canção."

Como é de praxe, há uma longa jornada para quem quer viver apenas de música. Apesar de o seu primeiro trabalho já ter lhe rendido elogios e projeção, Fabiana precisou reforçar sua renda dando aulas de canto. Como sempre, com a cara e a coragem, foi pedir emprego no Centro Livre de Aprendizagem Musical. Ao mesmo tempo, encarou aulas particulares de teatro para lapidar seu magnetismo no palco e "conhecer meu eu artístico".

Depois disso, Fabiana atuou em musicais como A Luta Secreta de Maria da Encarnação, última peça escrita por Gianfrancesco Guarnieri, em 2001. É essa versatilidade que lhe confere uma força descomunal nos shows, pois consegue unir o seu gingado natural às técnicas de canto e de teatro. Tudo sem afetação nenhuma, o que, aliás, não combina em nada com seu perfil de batalhadora e com suas raízes humildes - uma das avós trabalhou em lavoura mineira, veio para São Paulo e passou fome até encontrar trabalho como passadeira e lavadeira.

PÉ NO CHÃO
Para lidar com seus "monstros" e sua ansiedade, Fabiana não abre mão da terapia, em sessões que seguem já há seis anos. "É importante para ter consciência do meu trabalho e para não pirar no mundo da fama", avisa. "Construí minha carreira tijolo por tijolo. Por isso, passo o tempo todo baixando minha bola."

Com os pés firmes no chão, vem esboçando um belo currículo. Tem se apresentado ao lado de nomes como João Bosco, Zimbo Trio, Banda Mantiqueira, Nei Lopes, Dona Ivone Lara - de quem se tornou amiga. Essa lista vai aumentando a cada temporada.

Um ano depois de lançar seu segundo CD, Quando o Céu Clarear, parte finalmente para sua turnê oficial, com shows marcados a partir do dia 29. Aproveita também para colocar no mercado o seu DVD, com apresentações em Belo Horizonte, Salvador, Recife, Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre e Brasília.

Mora em um apartamento simples em Perdizes, não tem carro e boa parte do que ganha é reservada para investir na música. "Quero ampliar meu trabalho, dando melhores condições para meus músicos e minha equipe. Também quero ter o melhor cenário", afirma.

Fabiana conta com muitas parcerias, como o apoio das estilistas e designers alagoanas Ana Maia e Rosa Maria Piatti, do Viver de Arte, que elaboram um figurino exótico, ao seu gosto. "Pretinho básico não tem nada a ver comigo", avisa a cantora, que é adepta do candomblé.

Feliz da vida com o seu rumo profissional, não cansa de agradecer aos orixás e à sua mãe de santo Zezé, ialorixá de Recife, suas conquistas: amigos, viagens, reconhecimento e seu "namorido", o músico André Santos, contrabaixista de Francis Hime.

Reportagem publicada no Suplemento Feminino do Estadão em 11 de julho de 2009.

domingo, 5 de julho de 2009

na agenda: Feriado Pessoal

Esse blog foi criado no início do nosso projeto, de fazer um livro-reportagem sobre o samba de São Paulo. A idéia continua, mas o enfoque será nelas, nas belas e poderosas representantes femininas do ritmo na capital. Falando nelas, nas belezas e no samba, segue a matéria da Agência Estado, de 2 de julho, sobre o segundo disco de Bruna Caram: Feriado Pessoal.

SÃO PAULO - Bruna Caram começa a divulgar seu novo lançamento, o disco "Feriado Pessoal". Foram seis meses de preparo entre escolha de repertório, gravação e mixagem ao lado do produtor Alexandre Fontanetti. As 12 canções que compõem o disco energizam, são ?para um dia de sol nas férias?, como diz a cantora. A ex-Trovadores Mirins e Urbanos quer mostrar que a MPB também pode andar lado a lado com a alegria e aposta em uma sonoridade mais pop para conquistar o público.

Do samba melancólico fundido à letras e melodias de fossa, Bruna acha que o cenário já está bem preenchido. ?Adoro sons para chorar, mas acho que o público está sentindo falta de músicas para se sentir bem, para esquecer desse ambiente caótico e cinza em que vivemos?, explica. Desde a capa do CD, o fio condutor de Feriado Pessoal é essa busca da cura através das suas faixas. ?A minha foto colorida no edifício Copan com a cidade cinza ao fundo é a cara do disco.?

No repertório, além da faixa-título composta por ela, há músicas de Lô Borges ("Quem Sabe Isso Quer Dizer Amor"), Guilherme Arantes ("Cuide-se Bem") e Caetano Veloso ("Gatas Extraordinárias"). ?A escolha do Caetano foi natural. Cantava essa música aos 18 anos em uma banda que se apresentava em bares. Ficou bem diferente da versão da Cássia Eller.? Em São Paulo, os shows de lançamento do CD serão nos dias 7 e 8 de agosto, no Tom Jazz
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sábado, 4 de julho de 2009

Mart'nália no Sesc Pompéia


Nesta última quinta-feira, 2 de julho, assistimos o incrível show de Mart'nália, no Sesc Pompéia.
Mesmo gripada e com o friozinho de Sampa, Mart'nália mostrou a que veio e não deixou ninguém sem tirar os pés do chão.
O show começou com "Don't Worry, Be happy", sucesso absoluto de Bobby McFerrin, adaptado pela cantora para um suingado samba carioca.
Além de suas músicas, Mart'nália cantou a lindíssima música de Djavan, "Alívio", "Sem Dizer Adeus", de Paulinho Moska e "Vai Passar" de Chico Buarque, relembrando grandes compositores brasileiros num ritmo contagiante que não deixou ninguém parado.

Filha de um grande sambista, Martinho da Vila, Mart'nália, como apelidou seu pai, tem 7 discos gravados e dois dvds:

— MART’NÁLIA, LP - 1987;
— MINHA CARA, CD - 1997;
— PÉDO MEU SAMBA, CD - 2002;
— MART’NÁLIA AO VIVO, CD - 2004;
— MART’NÁLIA AO VIVO, DVD - 2005;
— MENINO DO RIO, CD - 2005;
— MART’NÁLIA AO VIVO EM BERLIM, CD/DVD - 2006;
— MADRUGADA, CD - 2008.

O que impressiona na cantora, além do suingado doce e do seu timbre forte e ao mesmo tempo singelo, é a sua capacidade de percussionista de quase todos os instrumentos de ritmo. Como seu pai mesmo disse: “Que cantora!… O seu canto é doce, negro, suingado e o seu timbre é especial. Compositora popular, é minha parceira e membro da Ala de Compositores da E.S.Unidos de Vila Isabel”.