segunda-feira, 25 de maio de 2009

Não sou de briga, mas estou com a razão

Na Barra Funda nunca mais eu voltarei/ Cantei meu samba, nunca mais eu trabalhei/ faz sete anos que eu vivo na malandragem/ quero trabalhar mas me falta coragem/ Tenho de tudo, até anel de doutor/ Trabalhar é pra relógio e eu não sou despertador/ sou malandro vestido, uso terno chapéu e sapato/ uma nega no basquete, dinheiro? comigo é mato

A música acima foi composta para que Germano Mathias participasse do programa Aì vem o pato, na Rádio Nacional de São Paulo. Madusca, Moleque Madureira, Barra Funda, ou Germano Mathias mesmo, frequentava as praças onde ficavam os engraxates atrás de uma boa rodada de tiririca com Mandião, Pato N´água, Jarrão, Café e Toniquinho Batuqueiro. Este último, muito sábio e observador, insistia que Germano fosse tentar a sorte nas rádios. Meio contrariado, ele comecou a frequentar o samba da Ipiranga com a São João. Lá, conheceu Odilon Araújo, que o convidou para o Aí vem o pato. Germano foi, mas quis compor sua música, "não queria ficar conhecido pela música dos outros". E aí veio Na Barra Funda, e aí ele virou artista de rádio e aí ele foi descoberto. E aí que ele tinha 20 anos e quem tem 20 anos tem que ter servido a sua pátria. ou tentado. e ele não tinha.

Barra Funda foi pro exército. Até que poderia ter sido duro. Acordar, 123, sim senhor, põe a farda, sim senhor, lava roupa, sim senhor, corre, 123, sim senhor, flexão, obedece soldado, vai pro xadrez, o sol nasce quadrado aí você sossega? que nada ...

Madusca no quartel era a mesma festa, samba toda hora. Até quando um colega chegou enfurecido, contando que viu sua nega abrindo a fresta da janela prum mocinho. Ele bateu como se fosse uma senha e ela espiou. Quebrou tudo, xingou a mulher, bateu no moço que falou da mulher, até quebrou a pia. Depois voltou pro quartel e pôs-se a chorar. Dormiu. E na cabeça de Germano, lembrou de Salvador Dali, e fez seu samba surreal.

Não sou de briga/ Mas estou com a razão/ Ainda ontem bateram na janela/ Do meu barracão/ Saltei de banda/ Peguei da navalha e disse/Pula muleque abusado/ Deixa de alegria pro meu lado/ Minha nega na janela/ Diz que está tirando linha/ Êta nega tu é feia/ Que parece macaquinha/ Olhei pra ela e disse/ Vai já pra cozinha/ Dei um murro nela/ E joguei ela dentro da pia/ Quem foi que disse/ Que essa nega não cabia?

Nenhum comentário:

Postar um comentário