domingo, 28 de junho de 2009

Martinália

Martinália não é daquelas cantoras que estão em todas as paradas das rádios, e isso não é de longe indício de que suas canções não são boas. Pelo contrário, seu canto é natural, seu gingado encanta, envolve, vicia. Além do sucesso no Brasil, ela também se destaca nos Estados Unidos e Europa - um dos seus 7 CDs já foi lançado em Portugal. Madrugada, seu último disco, é uma homenagem às noites que ela passa acordada, uma mostra de que muitas coisas podem estar só começando quando o relógio bate meia-noite*. Com produção de Arthur Maia e Celso Fonseca, o disco conta com a participação de Paulinho Moska, Mombaça, Jorge Agrião, Evandro Lima e Thiago Mocotó. Esta semana ela, uma das principais representantes femininas do samba nacional, se apresenta no SESC Pompéia. Fica aqui um aperitivo, a música Cabide, parceria de Martinália com Ana Carolina.



*texto de Marcus Preto

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Tias Baianas Paulistas



Outro projeto notável do produtor Gustavo Melo é o Tias Baianas Paulistas, um documentário que retrata o grupo idealizado por Valter Cardoso, o Valtinho das Baianas entre 1994 e 1995, e mantido por sua esposa, Dona Nadyr, sua cunhada e suas amigas baianas de diversas escolas de samba, entre elas Nenê de Vila Matilde, Camisa Verde e Vai-vai. Mais uma mostra da presença feminina no samba da cidade de São Paulo.

As Tias Baianas Paulistas deram continuidade ao projeto de Valtinho após sua morte e hoje se apresentam em diversos locais, muitas vezes com a roda de samba Kolombolo diá Piratininga, um grupo fundado em 2002 com a idéia inicial de fazer um grêmio recreativo nos moldes dos antigos cordões, mas que hoje realiza pesquisas, oficinas culturais, encontros, shows e gravações de CD's com o objetivo de trazer ao conhecimento do público a história do samba paulistano.

Nos encontros das Tias Baianas Paulistas com o pessoal do Kolombolo, são cantados sambas clássicos paulistanos de Adoniram Barbosa, Zeca da Casa Verde, Toniquinho Batuqueiro, Geraldo Filme, entre outros.

No documentário sobre as Tias Baianas, Gustavo Mello mostra a rotina das baianas, suas atividades como mães, esposas, avós, donas de casa, trabalhadoras e, até estudantes de primeiro grau, paralelo a paixão delas pelo samba, pela ala das baianas, além da dedicação à feijoada mensal e ao próprio grupo.

Já na casa da terceira idade, essas mulheres são gente simples. Vivem um dia-a-dia como muitas outras mulheres. Cozinham, levam os netos na escola, vão ao médico, lavam roupa, têm suas alegrias e tristezas. Mas têm, também, algo que as diferencia das mulheres comuns: são apaixonadas por samba e criaram um universo entre elas para contemplar e não deixar o samba morrer. Neste universo, elas ensaiam e se apresentam na ala das baianas. O cuidado vai desde a produção da fantasia, até a arte de amarrar delicadamente um turbante. "A baiana manda energia para todo mundo", diz uma delas.

Uma vez por mês, se reúnem na casa da Dona Nadyr, viúva de Valtinho das Baianas, e preparam de 2 a 3 panelas de feijoada, que são levadas pelo seu filho até a Praça do Aprendiz das Letras, na Rua Belmiro Braga, da Vila Madalena, onde recebem um público que está lá para admirar a beleza destas baianas, ouvir um bom samba e comer a feijoada preparada por elas.

Neste documentário, nota-se a força e determinação das mulheres na tentativa de preservar o samba paulista. Uma delas afirma que é um trabalho que muitas jovens não pensam e não tem força para fazer. "O velho prospera", diz uma das baianas.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

"O Mistério do Samba"




Para os que ainda não assistiram, aqui fica uma indicação, que vale bastante a pena: o documentário “O Mistério do Samba” sobre a Velha Guarda da Portela. Dirigido por Lula Buarque de Holanda (sobrinho de Chico Buarque) e Carolina Jabor (filha de Arnaldo Jabor), Marisa Monte (produtora do filme), Paulinho da Viola e Zeca Pagodinho.

A ideia do documentário surgiu em 1998, quando Marisa Monte resolveu resgatar sambas esquecidos para a produção do cd Tudo Azul, que resultou num trabalho belíssimo, que conta também com músicas inéditas encontradas durante sua caminha pela Portela.

Um dos destaques do documentário é a cena em que Marisa Monte visita a casa da viúva do portelense e acha um samba inédito de Manacéa, além de letras manuscritas e fitas cassete guardadas em uma maleta, como se não tivessem importância. Nesse ponto, dá para notas a simplicidade daqueles que participam da história do samba e do não estrelato, lógico que com algumas exceções.

O filme demorou 10 anos para ser gravado e apresenta-se em 1h30min. Ao final, uma visão geral e bastante apaixonada sobre a Portela é passada ao telespectador e o incrível do documentário é que ele não finaliza o assunto, por tanto deixa aquela pontinha de vontade no público de pesquisar mais e, lógico, de visitar a tão famosa Portela.

Em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo, Marisa explica seu amor às composições: “Com esses sambas, sabia que a vida ia ser melhor”. No que é apoiada por Carolina Jabor: “O samba faz com que a vida valha a pena”.




segunda-feira, 22 de junho de 2009

Walter Alfaiate

Este blog tem o intuito de promover o samba produzido em sampa, mas, quando recebemos um mestre do samba na nossa cidade, não podemos deixar de comentar. De 19 a 25 de junho, às 18h30, o cine sesc exibe o documentário Walter Alfaiate - A Elegância do Samba. Na quarta-feira, dia 24, exibição especial às 21h30, com a presença de Walter.

Nascido em 1930 e criado em Botafogo, Walter era frequentador assíduo dos blocos carnavalescos cariocas. O apelido é uma alusão a sua profissão, alfaiate, que começou aos 13 anos. Foi integrante da Ala de compositores do bloco da Mocidade Alegre de Botafogo, Bloco do Funil, São Clemente e Foliões de Botafogo.

Apesar do samba de qualidade, Walter só foi reconhecido quando conheceu outro ilustre morador de Botafogo: Paulinho da Viola, que gravou três canções de Alfaiate: Coração Oprimido, A.M.O.R. Amor e Cuidado, Teu Orgulho Te Mata. Walter foi crooner em Copacabana e compos mais de 200 sambas. Na década de 80 entrou para a Portela, mas mesmo apesar da trajetória e de ser referência em samba no Rio, ele nunca teve seu talento reconhecido pelas gravadoras (o que não é muito raro na história de muitos sambistas no País todo).

Seu único disco foi Olha Aí, de 1998, produzido por Aldir Blanc e Marco Aurélio. Aldir, aliás, é um dos artistas que participa do documentário, que conta com a presença de Sérgio cabral, Regina Casé, Paulinho da Viola, Beth Carvalho, Cristina Buarque de Hollanda, Zeca Pagodinho e Nei Lopes.


domingo, 21 de junho de 2009

Oswaldinho da Cuíca

Matéria com Oswaldinho da Cuíca, um personagem por vezes adorado, por vezes odiado, mas imprecindível na história do samba paulista. Revista E, mês de junho.


O músico e pesquisador Oswaldinho da Cuíca fala sobre a memória do samba paulista e sua militância pela produção da periferia

Osvaldo Barros, Oswaldinho da Cuíca para todo o mundo do samba e da MPB, nasceu no bairro do Bom Retiro, em São Paulo, em pleno carnaval de 1940. Teve infância pobre e uma trajetória difícil: “Vivendo só de música eu cheguei a passar fome”, diz. Mesmo assim, ficou conhecido no Brasil e no exterior como um dos maiores sambistas da música brasileira. Com a bandeira do samba genuinamente paulista em punho – e seu ritmo e história impressos em cada batuque –, Oswaldinho já tocou com lendas como Adoniran Barbosa, Geraldo Filme, Germano Mathias, Ismael Silva, Zé Kéti e Nelson Sargento, entre outros artistas da música nacional.
Entre as contribuições do ritmista ao samba e ao carnaval paulista estão a fundação da Ala de Compositores da escola de samba Vai-Vai e a participação na criação da Gaviões da Fiel e da Acadêmicos do Tucuruvi. No início da década de 1990, integrou uma série de projetos de valorização do samba e da música popular brasileira e, em 1997, intensificou as pesquisas sobre a memória do samba paulista. Essa veia rendeu frutos, como o livro Batuqueiros da Pauliceia – Enredos do Samba de São Paulo, em parceria com André Domingues (editora Barcarolla), lançado no Sesc Pompeia em maio, com uma série de shows. “Minha militância é quase exclusiva no samba de São Paulo, no samba rural e no samba de periferia”, disse em depoimento à Revista E, pouco antes de seguir para o projeto Cooperifa, no Capão Redondo, Zona Sul de São Paulo, para assistir a uma sessão do documentário Cidadão Samba, dirigido por ele, por Toni Nogueira e Simone Soul e lançado no Sesc Consolação, no início do ano. O filme resgata a história do samba paulista por meio de um de seus principais representantes:“É um trabalho que tem uma função, que não foi feito para mostrar a minha música”, diz o protagonista Oswaldinho. “É um filme que tem um conteúdo inédito e que não está escrito em livro nenhum.”

A seguir, trechos da conversa:
Tive uma infância muito pobre. Minha mãe era de Mogi das Cruzes – região que, em 1930, era um mato só, era interior. Ela se casou com meu pai, que era filho de italianos, mas eles se separaram depois de um ano – eles tentaram de novo, mas não deu certo. Com isso, a coisa ficou muito difícil para nós. Minha mãe foi trabalhar como empregada doméstica – foi o que ela conseguiu porque não tinha instrução nenhuma – e a patroa dela queria alguém que não tivesse filhos para poder dormir no emprego. Por isso, fui morar com a minha avó em Poá, outro fim de mundo, não tinha nem luz elétrica. Fiquei lá até meus oito anos, depois vim morar com uma tia em São Paulo – essa minha tia também era muito pobre, vendia frutas na rua. E foi em São Paulo que começou a minha vida de batucadas. Fui trabalhar como engraxate, com 13, 14 anos, em frente a um bilhar, na avenida Tucuruvi, que aos sábados tinha gafieira, e tomei gosto pelas batucadas. Depois disso, entrei nos cordões – antigamente não tinha escolas de samba em São Paulo – e não parei mais. Até que, de 1957 para 1958, o Corisco, da Editora Arlequim [editora era como eram chamadas as gravadoras] – que trabalhou com o Chico Buarque, com o Caetano Veloso, Gilberto Gil, Jorge Ben Jor, foi ele que começou a gravar com esses grandes da Record [refere-se aos festivais de música da TV Record que revelaram muitos nomes da MPB hoje famosos] –, começou a me levar para o estúdio para eu gravar com o Walter Wanderley e com outras pessoas famosas, nacionais e internacionais – porque vinha gente de outros países gravar aqui também. Foi assim que me profissionalizei. Em seguida, em 1959, ingressei no teatro de Solano Trindade – um pernambucano que tinha ido para o Rio de Janeiro e depois veio para São Paulo, um dos maiores nomes da cultura negra no Brasil, um grande poeta – que foi uma das minhas escolas. A outra foi meu convívio com um dos maiores gaúchos de todos os tempos, Luiz Carlos Barbosa Lessa, folclorista e compositor dos mais importantes do Sul.


A obra
Disco meu mesmo eu não tenho muito, não. Na verdade, eu me considerava mais instrumentista, músico de acompanhar. Eu fui o que mais gravou no Brasil. Até os anos de 1990, eu gravava com todo mundo, três, quatro sessões por dia. Eu gravei com tudo quanto foi artista deste país. Por isso, não me interessava em compor ou cantar, porque eu gostava de sambar nas escolas de samba, sambar no pé, e tocar cuíca, pandeiro, surdo, eu gostava era de tocar. Meu primeiro disco [Osvaldinho da Cuíca e Grupo Vai-Vai] é de 1974. Gravei pela Marcos Pereira, quando ela fez o mapa musical do Brasil – foi um dos primeiros registros em disco a mapear o Brasil. Depois, em 1984, fiz outro LP [Preto no Branco, pelo selo Som da Gente] – e, em seguida, gravei vários compactos, porque, como eu gravava muito samba enredo, dá impressão de que eu tenho muita coisa gravada, mas é porque eu tinha sempre um samba enredo campeão e que era gravado. Meu primeiro CD foi A História do Samba Paulista [1999], pela CPC Umes – ele nunca sai de catálogo, é muito procurado. Quando eu estava muito doente, comecei a fazer um monte de coisas. Fiz esse CD mais recente – Osvaldinho da Cuíca Convida – Em Referência ao Samba Paulista [2006, pelo selo Rio 8], com a participação de Demônios da Garoa, Jair Rodrigues, Quinteto Em Branco e Preto, Tobias da Vai-Vai, enfim, muita gente boa. E, nesse CD, na metade dele, eu escrevi músicas de cunho regional, sambas rurais, e a outra metade saiu com sambas urbanos, com a influência carioca. Mas, antes disso [em 2004], fiz um CD só com músicas clássicas [O Clássico Visita o Samba]. Eu e o Lelis [pianista e compositor carioca] no piano. Então só Beethoven, Bach, Mozart, todos os clássicos do passado em ritmo de samba. Foi nessa época que saiu o meu livro [Sampa, Samba, Sambista – Osvaldinho da Cuíca, Edição do Autor, de Maria Apparecida Urbano] e começou a ser feito o documentário, o Cidadão Samba. É um filme didático que conta a história do samba, de quem inventou os passos do samba, conta a história dos instrumentos, de onde eles vieram, a história dos cordões, do samba rural, da batucada paulista. É um filme que tem um conteúdo inédito e que não está escrito em livro nenhum. É um trabalho que tem uma função, que não foi feito para mostrar a minha música.



Militância no samba
Em 1974, quando fiz meu primeiro LP pela Marcos Pereira, foi tudo muito às pressas. Veio um produtor do Rio, chamado Pedro Maranguape, que não conhecia direito o meu trabalho e me fez gravar algumas músicas – do Paulinho da Viola, do Benito de Paula –, e com isso eu gravei apenas duas músicas minhas e do Papete, que era o meu parceiro. E o José Ramos Tinhorão, no Jornal do Brasil, escreveu meia página com o título: O que impera no meio não é a virtude, é a mediocridade. E falou muito mal do disco. Ele começou a reportagem dizendo que tinha sido lançado um LP pela Marcos Pereira, disse que era um grande selo por retratar a cultura musical do Brasil, disse que o disco era meu e que, apesar de eu ser um grande sambista de São Paulo, tinha enveredado pelo caminho da mesmice, não acrescentando nada ao gênero regional de São Paulo. Disse que eu tinha copiado o samba de padrões cariocas. Eu tomei um choque com aquilo. Peguei aquela crítica e li, reli, e pensei: “E não é que o Tinhorão está certo?” Aquele produtor não tinha mesmo me deixado cantar as minhas músicas. Aí aceitei o puxão de orelha como uma crítica construtiva. Depois disso, de 1974 para cá – como eu vi muitos movimentos musicais e aqueles dos quais eu não participei eu ouvi a história dos antigos (seu Dionísio Barbosa, que nasceu em 1891, seu Zezinho do Banjo, que é de 1911, o Geraldo Filme, que nasceu em 1927) –, eu resolvi colocar isso em prática. Hoje a minha militância é quase que exclusiva no samba de São Paulo, no samba rural e no samba de periferia.



“(...) eu não me interessava em compor ou cantar porque eu gostava de sambar nas escolas de samba, sambar no pé, e tocar cuíca, pandeiro, surdo, eu gostava era de tocar”

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Tia Ciata

Hilária Batista de Almeida, Tia Ciata, a baiana mais conhecida do samba. Era em sua casa que aconteciam as festas que acolheram os compositores pioneiros desse estilo musical no Rio. Foi lá que nasceu o famoso "Pelo Telefone". Suas festas duravam dias, com direito a choro, samba de partido-alto e batucada no terreiro.

Nascida em Santo Amaro da Purificação, no Recôncavo Baiano, ela foi uma das principais lideranças dos negros do Rio de Janeiro, onde, à época, era um espaço de indentidade da cultura afrodescendente. Apesar dessa relação com os mais pobres, ela era muito respeitada pela elite carioca, pois comandava baianas que vendiam roupas para clubes carnavalescos oficiais, sem falar nos deliciosos doces.

Curiosidade

O escritor, folclorista e musicólogo do modernismo brasileiro, Mário de Andrade, mencionou Tia Ciata em seu principal romance: Macunaíma, o herói sem caráter. No livro, o escritor descreve uma cerimônia de macumba na casa de Ciata.

"Era junho e o tempo estava inteiramente frio. A macumba se rezava lá no Mangue no zungu da Tia Ciata, feiticeira como não havia outra, mãe-de-santo famanada e cantadeira ao violão. Às vinte horas Macunaíma chegou na biboca levando debaixo do braço o garrafão de pinga obrigatório. Já tinha gente lá, gente direita, gente pobre, advogados garçons pedreiros meias-colheres deputados gatunos, toda essa gente e a função ia principiando..."

Dizia-se que a baiana tinha habilidade com orixás que curou a perna do presidente Venceslau Brás.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Samba da Vela


“Um verdadeiro culto ao samba”. Confesso que quando li essa frase no site da Comunidade do Samba da Vela, achei ela um tanto quanto exagerada. Mas, ontem após ir ao Samba da Vela, percebi que a frase não é nada exagerada. Segundo o dicionário Houaiss, culto significa: “cultivar, habitar, cultuar, cuidar, tratar bem, prosperar algo...”. Esses são os valores que ficam claros logo que se chega à comunidade. Uma grande roda é feita com cadeiras e no centro estão os fundadores, compositores convidados, cavaquinho, pandeiro e tamborim, letras incríveis sobre o cotidiano, as palmas do público que acompanham o ritmo e, lógico, a vela bem ao centro. Dessa vez, foi a branca. Acessa por volta das 20h30, a vela só foi acabar às 23h30, enquanto isso o samba rolava solto e algumas manifestações, como mãos para o alto, puderam ser notadas durante as músicas, quase que como um culto religioso.
Durante uma canção e outra, discussões sobre música, política, economia reúnem as diversas opiniões e dão vazão a novas composições. Como definem seus fundadores: “O samba é uma das verdades culturais mais autênticas do nosso país, porque sai do povo e volta para ele, sem que este tenha que pagar por isso. É manifesto popular, portanto, é de graça!”

O Samba da Vela foi fundado em 2000, por Magnu Sousá, Paquera, Chapinha e Maurílio de Oliveira. O encontro acontece todas às segundas-feiras, às 20h30, na Casa de Cultura de Santo Amaro. No dia 29 desse mês, haverá a festa junina e o samba será celebrado na rua, uma ótima opção para quem ainda não conhece.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Dicas.

A semana passada no show do Quinteto Branco e Preto, no Sesc Santo André, tivemos o conhecimento sobre o Samba da laje e hoje recebi de um colega essa matéria publicada no Jornal da Tarde, em 2007, por Geórgia Nicolau. Resolvi postar a matéria, mesmo sendo um pouco antiga, porque dá várias dicas dos lugares pouquíssimos divulgados e onde o samba de raiz rola solto. Estivemos presentes, há algumas semanas, no Você Vai Se Quiser e nos surpreendemos: o ambiente é super agradável e o samba arrebenta, vale a pena conferir!

O samba da laje

Escondidinhas, rodas de samba são um fenômeno


“O poeta falou / que São Paulo enterrou o samba / que não tinha gente bamba / e não entendi porquê / Fui à Barra Funda, fui lá no Bixiga, fui lá na Nenê / me perdoa poeta, mas discordo de você”. A música Me Perdoa, Poeta é a reposta da sambista carioca Leci Brandão à famosa afirmação de Vinicius de Moraes, de que a capital paulista seria o “túmulo do samba”.

E Leci tem razão. Samba da Tenda, Terrero Grande, Samba do Timaia, Você Vai Se Quiser, Samba da Vela. Do centro à zona leste, para ouvir ou para dançar, relembrar ou aprender, a Capital oferece rodas para todos os gostos. A maioria nascida de uma reunião de amigos com vontade de cultuar o ritmo, nacional por excelência. Além da diversão, às vezes a única, as rodas cumprem uma função social por meio de campanhas do agasalho, arrecadação de alimentos e participação em reuniões. “Nós agimos politicamente na comunidade e buscamos melhorias”, esclarece Elisângela Simião , a Zanza do Samba da Tenda, em São Miguel Paulista. Fundada há 4 anos e com 18 músicos, a Tenda tem uma cavaquinista mulher, Elisa, a irmã de Zanza, coisa rara num meio ainda dominado pelos homens.

Debaixo de uma tenda vermelha da Coca-Cola, outro grupo ecoa bambas como Candeia, Nelson Cavaquinho, Cartola, Gonzaguinha e Geraldo Filme. É a Comunidade do Samba Passado de Glória, na ativa há três meses no bairro do Jardim Nordeste, também Zona Leste da Cidade. Mais especificamente, no bar do Seu Dimas, que em troca do samba, fornece o combustível: cervejinha e pinga com mel. Nasceu de uma reunião de amigos com o intuito de exaltar a chamada velha guarda. “Nós fazemos samba de resistência. Para nós, não importa o modismo”, explicou Alessandro de Souza Aguiar, o Bacabinha, um dos fundadores. Ironia ou não, a faixa etária da roda é em média 24 anos. Quem quiser arriscar pode se sentar. O sistema de canto é por rodízio em sentido horário.

Do outro lado da Cidade, em uma rua sem saída na Vila Santa Catarina, Zona Sul, uma roda veterana mostra o vigor do samba na terra da garoa. Foi na laje de dona Generosa que tudo começou, há dez anos. Com irmãos e sobrinhos músicos, a ex-copeira e faxineira fazia todos os aniversários da família, regados a muito samba e feijoada, na então recém-construída parte de cima de sua casa. A coisa foi crescendo até que um dia alguém advertiu que a laje podia cair. “Fiquei desesperada. Falei que o samba só ia continuar se todo mundo descesse”, se diverte a matriarca.E desceram.

Uma década depois, completada no próximo mês, o Samba da Laje reúne cerca de 700 pessoas e tem equipamento de som e até dois banheiros químicos, alugados, para não aperrear os dançarinos com filas demais. Algumas coisas, porém, continuam como no início. “Em dia de samba, acordo às 3 da manhã. Gosto de fazer a feijoada sozinha”, confessa Generosa. Vendido a cinco reais, o prato é de dar inveja a muito restaurante especializado.

O “Samba da Praça Roosevelt”, como costuma ser chamada a roda Você Vai Se Quiser, também tem feijoada. Mas o sucesso é o mineirinho: lingüiça, calabresa, mandioca, e uma cachacinha no meio. Há quatro anos lotando o Bar da Dona Rafaela, em frente à praça, a roda é puxada pela cantora Graça Braga.

Já no Buteco do Timaia, a especialidade é o peixe assado, que o amigo Laerte só faz no dia do samba, comandado pelos Filhos de São Matheus e integrantes do Quinteto em Branco e Preto. “A gente toca o que não se ouve na rádio”, explica Timaia.

O pessoal do Terrero Grande também. Originários do Projeto Morro das Pedras, um grêmio recreativo de tradição e pesquisa, seus integrantes pesquisam sambas antigos. A fama logo saiu da comunidade. Cristina Buarque, irmã de Chico, os levou para acompanhá-la e, juntos, gravaram um disco.

VOCÊ VAI SE QUISER

Rua João Guimarães, 241, Centro. A partir das 15hs. 3816-3082. R$ 10

SAMBA DA LAJE

Todo último domingo do mês a roda que começou na laje reúne cerca de 700 pessoas.Rua Jandi, Vila Sta Catarina. Das 14h às 21h. Com Generosa, 5566-0345. Grátis

TERRERO GRANDE

Continuação do grupo Morro das Pedras. A roda é mensal e não tem lugar certo. Com Renato no 6106-3296

PASSADO DE GLÓRIA

Recém-criada, a roda quinzenal exalta o passado do samba. Largo Juparanã, nº3, Jd. Nordeste, Metrô Patriarca. Das 13h às 18h. 9704-0650. Grátis

SAMBA DA TENDA

A roda acontece quinzenalmente. Clube da Comunidade Tide Setúbal, Rua Mário Dallari, 170, São Miguel Paulista. Com Zanza, 8254-6781

BUTECO DO TIMAIA

A roda mensal é comandada pelos Filhos de São Matheus. Rua João do Canto e Mello, 321. Pq. São Rafael. Contato c/ Timaia 6753-5042. Grátis

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Clara Nunes

Clara Francisca Gonçalves Pinheiro. Mineira, filha de violeiro e tecelão, nascida em 1943.


Ficou órfã de pai e mãe antes dos 5 anos, sendo criada pelos irmãos. Entre suas principais influências musicais estavam Carmem Costa, Ângela Maria, Elizeth Cardoso e Dalva de Oliveira. Aos 14 anos, ela ganhou o primeiro concurso, cantando Recuerdos de Ypacaraí. Clara se mudou para Belo Horizonte após o assassinato de um namorado (cometido pelo seu próprio irmão). Lá, trabalhava como tecelã durante o dia e estudava a noite. As noites de sábado e domingo eram dedicadas para ensaios na igreja do bairro onde morava. Nesta época, Clara conheceu o compositor do hino do Cruzeiro, Jadir Ambrósio, que a levou para programas de rádio, como o Degraus da Fama.

Em 1960, já com adotando o sobrenome da mãe – Nunes -, ela venceu mais a categoria mineira do concurso A Voz de Ouro do ABC, interpretando Serenata do Adeus música de Vinícius de Moraes e já gravada também por Elizeth. Na final nacional ela ficou com o terceiro lugar, com a canção Só Adeus. A partir daí a carreira deslanchou. Três anos consecutivos considerada a melhor cantora de Minas, crooner em clubes e boates da capital mineira, alguns trabalhos com Milton Nascimento e um programa exclusivo na TV Itacolomi, o Clara Nunes Apresenta.

Já no Rio de Janeiro, para onde foi em 1965 e passou a se apresentar na Continental, foi contratada pela Odeon. No ano seguinte lançou o LP A voz adorável de Clara Nunes, e tempos depois Você passa e eu acho graça, seu primeiro sucesso. Em 1972, realizou seu primeiroshow, Sabiá, sábio, e lançou o disco Clara, Clarice, Clara, com letras de Caetano Veloso, Dorival Caymmi e compositores de escola de samba. O LP seguinte, Tristeza pé no chão, vendeu mais de 100 mil cópias, e logo em seguida partiu para Europa gravar Brasília. Quando voltou ao Brasil, gravou Alvorecer, que estourou nas paradas nacionais com Conto de Areia. Nos anos seguintes ainda lançou os LPs Claridade, Canto das três raças, As forças da natureza, Guerreira, Esperança, Brasil mestiço (com o sucesso Morena de Angola – canção de Chico Buarque escrita para Clara), Clara e Nação, seu último disco.

Em abril de 83, a cantora se submeteu a uma cirurgia de varizes. Apesar dos rumores de que ficou internada 28 dias por conta de um aborto, tentativa de suicídio ou espancamento do marido -Paulo César Pinheiro -, Clara faleceu após um choque anafilático. Em seu enterro, mais de 50 mil pessoas foram à quadra da Portela, sua escola de coração. Em sua homenagem, a rua onde fica a sede da escola recebeu seu nome.




sexta-feira, 5 de junho de 2009

Um Homem de Moral

Estréia hoje nos cinemas Um Homem de Moral, documentário de Ricardo Oliveira sobre a obra do músico (e zoólogo) Paulo Vanzolini.


Com Chico Buarque, Márcia, Adoniran Barbosa, Martinho da Vila, Miúcha, Paulinho da Viola, Inezita Barroso, Elton Medeiros e muitos outros, o autor de mais de 70 canções e 150 artigos acadêmicos, revive sua história, revisita sua obra e relembra os velhos tempos boêmios.

Vanzolini, que prefere ser lembrado por seus feitos dentro da zoologia e nunca pensou em tornar-se músico profissional, é autor de "Ronda" e "Volta Por Cima", dois sucessos incontestáveis para o Samba Paulistano.

São Paulo, para Vanzolini, foi inspiração para suas melhores composições.

Vale a pena conferir e prestigiar esse grande nome do Samba Paulista!

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Madrinha Eunice

A semana passada estive com o Gustavo Mello, produtor do documentário Samba A Paulista – Fragmentos de uma história esquecida. Conversando sobre as mulheres que participaram da história e do desenvolvimento do samba na capital, Gustavo citou a Madrina Eunice e me contou um pouco sobre sua história. Pesquisando, depois, sobre ela me surpreendi. Madrina Eunice, pouquíssimo lembrada, é uma figura determinante no carnaval paulista. Por isso, esse post é dedicado a ela.

Deolinda Madre, nascida no interior de piracicaba, foi a fundadora da primeira escola de samba de São Paulo. Madrinha Eunice como ficou conhecida, fundou a Lava Pés, na capital paulistana, depois de ir ao Rio de Janeiro e vislumbrar as escolas de samba carioca. O fato foi muito ousado para a sociedade da época, sendo ela mulher, negra e pobre. Em 1937 se inspirando no córrego da antiga rua dos Lavapés, onde negros e viajantes tinham de limpar seus pés para pisar na "parte nobre" da cidade, fundou-se a mais antiga escola de samba em atividade na cidade de São Paulo. Talvez intuída, Madrinha Eunice, a partir deste momento, dentro do cenário em que vivia, juntou sobre a proteção do estandarte de sua escola de samba todos os instrumentos e elementos para que este grupo de pessoas conseguisse ganhar a cidade. Cantando músicas de Carmem Miranda e outras populares de seu tempo, a escola foi conseguindo popularidade; se transformando na matriarca de várias escolas do carnaval paulistano, como Vila Mariana e Peruche, vencendo na década de 40 e 50 dezenove carnavais e rompendo muitos paradigmas. Hoje, porém a mesma vive uma realidade diferente. Com o surgimento do que muitos chamam de "evolução" carnavalesca, a escola perdeu sua notoriedade. Eunice, apostando no tradicionalismo, fez com que a escola perdesse a "competitividade" dentro da evolução de nosso atual carnaval moderno. Em 1995 com 87 anos, Madrinha Eunice morreu, passando o estandarte para Rosimeire Marcondes de Moraes sua neta, a qual sabe de cor a história da escola de coração de sua avó. Hoje esquecida na baixada do Glicério, sem sede própria e sem quadra para ensaio, Rosemeire luta para manter viva a chama da Lava Pés, ícone do samba e da cultura paulista, conquistada e fundada por uma mulher.